Produzir café no Cerrado – que antes era considerado um ambiente improdutivo – é um grande desafio para os produtores. Solos pobres quimicamente, muito intemperizados, com altos teores de alumínio, ocorrência de veranicos e alta pressão de pragas e doenças são alguns dos desafios que o cafeicultor do Cerrado enfrenta.
E foi pensando em driblar esses e outros desafios da cafeicultura que Alessandro Oliveira e José Peres Romero (in memorium) criaram o “Sistema AP Romero”, buscando a construção de um sistema sustentável para a produção de café no cerrado mineiro. O nome do sistema representa uma homenagem ao Engenheiro Agrônomo Dr. José Peres Romero, que tanto contribuiu com a idealização desse sistema inovador de produção de café.
Segundo Carducci e Oliveira (2021), a construção da fertilidade química do solo através da incorporação do calcário na camada de 60 cm de profundidade e da adição de gesso agrícola na superfície do solo é um dos diferenciais do sistema de manejo AP Romero.
Por se tratar de um subproduto da indústria de fertilizantes fosfatados, o gesso agrícola foi por muitos anos considerado um descarte industrial, pois seus benefícios para a agricultura não eram conhecidos e nem difundidos.
Atualmente sabe-se que o gesso atua no subsolo neutralizando o efeito tóxico do alumínio (Al) e suprindo tais camadas do solo com cálcio (Ca) e enxofre (S). Sendo assim, o aprofundamento das raízes é potencializado, podendo chegar a 2 metros de profundidade e acessar água e nutrientes que eventualmente movimentam-se para o subsolo, como o potássio (K) e o magnésio (Mg).
Pesquisadores e estudos dentro do Centro de Pesquisas AP Café mostraram diversos benefícios do consórcio cafeeiro-braquiária, sendo um pilar relevante do Sistema AP Romero.
O cultivo de braquiária nas entrelinhas do café é importante para produção de biomassa adicional, e quando realizada a colocação dos resíduos do corte dessa gramínea junto à linha de plantio, as raízes do cafeeiro se mostram mais ativas e abundantes, o que pode causar o aporte de nutrientes à cultura e de carbono ao solo.
Um dos benefícios visíveis foi a diminuição da temperatura do solo onde a gramínea estava instalada em comparação com o solo exposto (manejo adotado na cafeicultura tradicional). Além disso, a presença dessa planta de cobertura aumenta a infiltração pelo aumento da rede de poros no solo, reduzindo drasticamente a perda de solo por erosão em plantios de café em solos declivosos.
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Outro benefício da Braquiária é a redução da ocorrência de plantas daninhas na entrelinha do café, realizando assim o controle cultural e reduzindo os gastos com herbicidas. E os benefícios não param por aí! A realização da adubação do sistema unida à roçadas da Braquiária jogando essa matéria verde na linha do café – processo conhecido como adubação verde – proporcionam a ciclagem de nutrientes, além do aumento da matéria orgânica no solo, o que se mostrou muito benéfico ao cafeeiro.
No Sistema AP Romero é recomendado o cultivo adensado de cafeeiros, pois este oferece uma maior densidade populacional e é possível exigir menos de cada planta de café por hectare. Tal fator é fundamental pensando em anos de crise, onde a produção é afetada por fatores climáticos, os quais não é possível controlar.
Por exemplo, se a ausência de chuvas reduzir a produção por planta para 3 litros/pé em um espaçamento tradicional com média de 4.081 plantas/hectare (3,5 m x 0,7 m) a produção será de 24,5 sacas de café (60kg) por hectare. No caso de cafés adensados com espaçamento de 2,7 m x 0,6 m e média de 6.173 plantas por hectare, a produção será de 37 sacas por hectare.
Assim, o manejo correto da lavoura cafeeira, incluindo o adensamento no plantio, preparo adequado, uso de condicionadores de subsolo e o aumento dos níveis de nutrientes levam não só ao aumento da produtividade de grãos, mas também à maior produção de biomassa e resíduos nos cafezais, que são necessários para o sequestro de carbono (C) e a melhoria da qualidade do solo (Carducci e Oliveira ,2021).
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